Literatura

                                      

 

Os biógrafos tem um lado ingênuo: 

acreditar nos familiares do biografados

por Luiz Antonio Almeida

ZEQUINHA DE ABREU !!! peito do Vida de biógrafo é fogo !!! Heheheh... Em outubro de 2016, completo quarenta anos como Pesquisador da Música Brasileira. E confesso que o maior presente que poderia receber é se chegasse alguém me trazendo informações novas a respeito do grande Ernesto Nazareth. Putz... Que maravilha !!! A isso chamamos, nós, biógrafos, de "resgate"... Inclusive, se eu dependesse da família, poderíamos, hoje, estar pleiteando a canonização do compositor !!! Heheheh... A loucura do mestre sempre foi relacionada, de uma forma romântica, à sua surdez... Fui o primeiro a tornar público que a loucura de Nazareth era resultado da sífilis, e ninguém pega a sífilis numa xícara de café... E onde essa informação diminuiria a importância de Nazareth? Em lugar nenhum... Só que os biógrafos têm um lado muito ingênuo: o lado de acreditar nas pessoas, principalmente nos familiares dos biografados... Por que duvidaríamos do depoimento de uma filha, de um neto, um bisneto? Por que o laudo de um médico, acompanhado de todos os exames possíveis, confirmando uma doença, seria mais verdadeiro que a versão sentimental de uma sobrinha? Outro dia, escrevi um post bacana a respeito do Zequinha de Abreu, de quem sou primo e biógrafo. Usei essa imagem como ilustração... O post estava bombando quando recebi uma informação de que esse não seria o Zequinha. Com muita tristeza, mas em respeito a pessoa que me avisou sobre isso, apaguei o post. Pois é... Essa imagem está publicada em três livros a resZequinha. Um deles, o da saudosa Profª. Maria Amália Giffoni, foi financiado pela Prefeitura de Santa Rita do Passa Quatro... Agora, nunca recebi nenhuma explicação de o porque que o sujeito aí da imagem não seria o Zequinha... Os biógrafos não são perfeitos, mas eles trabalham com as informações que conseguem coletar... Dirce, a filha do Zequinha, foi por mim entrevistada várias vezes (fui a São Paulo quatro vezes) e me disse coisas que muitos familiares do compositor, de gerações seguintes a dela, nunca ouviram falar... E o que é que eu posso fazer nesse sentido? Que familiar, hoje, do Zequinha, poderia me dizer o prato preferido dele? O perfume que ele usava? O nome do alfaiate dele? Sei coisas de meu saudoso pai que meus irmãos não sabem... Assim como meus irmãos sabem coisas a respeito dele que eu nem conheço... Isso é óbvio... O que não se pode aceitar é que, um dia, ao publicar um livro a respeito de meu pai, meus sobrinhos ponham em dúvida qualquer informação ali contida simplesmente porque os pais deles jamais lhes contaram aquilo ou contaram de uma outra maneira... E o que fazer para evitar esse tipo de aborrecimento, de desgaste? É simples: deixar que todo aquele material, por tantos anos pesquisado, continue mofando no fundo de uma gaveta...